1929 – 1953 Ypiranga no Ipiranga

O bairro do Ipiranga se tornou parte da história do Clube, quando seus dirigentes perceberam a grande agitação em torno do futebol local. Noschese e seus companheiros entraram em contato com os líderes do bairro, incluindo o Sr. Frederico Jafet, presidente do Independência, que já estava saturado do esporte. Para a negociação, indicou-se o Sr. Jose Naranjo, que trabalhava na fábrica da família Jafet. Algum tempo após o contato, a apreensão tomou conta dos dirigentes do Centro, até que Noschese recebeu uma ligação de Jose Naranjo, anunciando que as negociações tinham sido concluídas. O Clube escolhido foi mantido como Ipiranga, e mais um obstáculo foi contornado. Desde 1906, o Clube Atlético Ypiranga enfrentou muitos desafios, mas finalmente, em 1932, o bairro recebeu a equipe.

Algumas das pessoas que ajudaram a consolidar o clube no bairro e trabalharam incansavelmente foram Nagib Jafet, Angelo Antônio Milanesi, Carlos Jafet, Dr. Eduardo Jafet, José Naranjo, Benedito Vaz Guimarães Domingos, Manilo Sgarzi, Alfredo Cassela, Luiz Feliciatti, Orestes Sipa, Familia Fongaro, Alexandre Lenci, Albino Texeira Pinheiro, Dr. Elpídio de Paiva Azevedo e muitos outros que deixaram saudades com seus gestos.

Em 1932, após uma cisão, os rivais do bairro fizeram uma feliz fusão e o clube passou a se chamar América, jogando na divisão principal. Antes disso, o clube mudou seu nome para Nacional. Em 1932, outra fusão ocorreu, formando um novo Ypiranga, que se tornou um clube forte e próspero ao reunir os desportistas do bairro em torno de sua bandeira.

O Independência havia sido campeão Municipal em 1919 e da 2ª Divisão em 1921 e 1924. Já o Silex foi campeão da 2ª Divisão em 1925 e 1928, ambos clubes de tradição no bairro. Com a fusão, o Ypiranga passou a jogar no campo da Rua dos Sorocabanos, que pertencia à família Jafet e era chamado de “Nami Jafet”. Antes disso, o Independência mandava seus jogos no mesmo local.

O clube se instalou em sua primeira sede social no antigo cinema do bairro, chamado Cine Brasil, por estar próximo ao campo.

Conta-se a história do clube ypiranguista, que mesmo participando do campeonato oficial de futebol, não conseguia passar de um simples participante. Era uma sina que confirmava a “praga” dos adeptos do passado, que previam que o CAY jamais seria campeão.

No entanto, o clube encontrou uma luz no fim do túnel quando o saudoso Carlos Paeta implantou o Departamento de Futebol Amador, com três categorias: Infantil, Juvenil e Amador. Ao lado de Gilberto Vivian Ferraioli, José Minelli e Natal Saliba, eles se tornaram a grande alegria do clube, criando um grande celeiro de craques.

Além do futebol, o departamento de pedestrianismo liderado por Nicolau Stefanelli também trouxe vitórias para o clube, com suas conquistas em provas como a São Silvestre e a Prova da Fogueira no Rio de Janeiro. Eles até criaram a tradicional Volta do Ipiranga, em homenagem a Nami Jafet, com treinos realizados à noite no campo da Sorocabanos, sem refletores. Verdadeiros heróis.

As dificuldades e mudanças de sede constantes continuavam a desafiar o clube, que enfrentou essa saga graças aos heróis que o dirigiam. O futebol ainda era deficitário, e os sócios não conseguiam cobrir os déficits do clube. Mas, finalmente, surgiu uma nova sede social, trazendo esperança para o futuro.

Em 1939, para a nova sede social, o clube alugou um novo espaço na Rua dos Patriotas, próximo à Companhia de Linhas para Coser, que frequentemente emprestava suas máquinas de escrever, conforme depoimento de Enio Zucchini. No entanto, a sorte do Ypiranga mudou quando Carlos Jafet assumiu a presidência do clube. Jafet era um importante desportista e industrial em São Paulo, cuja energia e liderança trouxeram um novo patamar de sucesso para o alvinegro no cenário esportivo brasileiro.

Em 1940, com Jafet na presidência, o Ypiranga conquistou um magnífico terceiro lugar no campeonato, perdendo o título por detalhes e arbitragens questionáveis. Nesse ano, o ponta direita Peixe tornou-se o artilheiro do campeonato.

Em 1941, o Ypiranga não teve grande sucesso, mas em 42, 43 e 44, conquistou o quarto lugar e o título de tricampeão do Bloco do Oito. Neste período, Carlos Jafet montou um dos melhores times da história do CAY, com Barbosa, Lulu e Sapólio, Laxixa, Ortega e Alcibíades, Duzentos, Canhoto, Plácido, Magri e Rodrigues.

Em fins de 1944, Jafet deixou um grande vazio na direção do Ipiranga, partindo para os Estados Unidos por motivos pessoais. Os ypiranguistas sentiram muito sua falta e nunca esqueceram os momentos gloriosos que o clube viveu sob sua liderança.

O Ypiranga se tornou o clube mais simpático do Brasil e a expectativa era de que, com o retorno de Jafet, o clube pudesse alcançar o tão cobiçado título.

Durante a presidência de Carlos Jafet e com Domingos Sgarzi como vice-presidente, os dirigentes do Ypiranga souberam que a Light possuía uma sede recreativa no Parque do Sacomã, que pertencia à família Sammarone. Sob a orientação de Carlos Jafet, o clube iniciou negociações para alugar o espaço, com o objetivo de promover atividades esportivas em um local mais amplo e adequado. Após idas e vindas nas tratativas, o sonho finalmente se concretizou em 1940, quando o CAY se instalou no parque e começou a desenvolver diversos esportes, incluindo natação e passeios de barco no belo lago existente no local.

Um dos grandes trunfos do parque foi um cocho de madeira que se tornou fundamental para a formação de futuros nadadores. O treinador Zeferino dos Santos, dedicado e abnegado, reunia jovens todas as tardes para treinar e preparar os nadadores que representariam o clube em competições. Diversos atletas foram revelados pelo clube, incluindo os irmãos Clemente, Elizabeth Huntelocher, os irmãos Santos e Pichú, entre outros, que trouxeram títulos e glórias para o Ypiranga. Esses atletas contaram ainda com o apoio e dedicação de Constantino Cipullo nessa empreitada.

Em 1945, o atletismo estava em alta tanto em nível nacional quanto internacional. Especialmente a tradicional Volta do Ipiranga, de pedestrianismo, que era o evento anual marcante do clube, deu um novo impulso ao esporte. A expansão de outros esportes, como basquete (masculino e feminino), vôlei, hóquei sobre patins, campeonatos internos de futebol, boxe e tênis, tomava proporções gigantescas.

No campo cultural, os teatros e bailes, especialmente os de carnaval, ganhavam novo espaço, assim como os eventos beneficentes como o Natal das Crianças Pobres e as Festas Juninas com novos contornos. Enquanto isso, o futebol profissional seguia seu curso com altos e baixos. Na vida do CAY no Sacomã, destacavam-se os adeptos do carteado que sempre estavam presentes nos momentos difíceis do clube. As lanchonetes atraíam as famílias que passavam o dia todo no clube.

Desde 1906, o clube era conhecido por revelar craques, e muitos atletas encontravam ali espaço para progredir. Outro fato digno de registro foi o notável serviço de alto-falante que o clube possuía, com nomes como Gobbato, Gasgues, Freire, Persevalli e tantos outros que levavam às ondas do rádio o grande noticiário do clube.

Quando tudo parecia estar sob controle, uma nova saga surgiu na vida do clube: a perda do campinho da rua dos Sorocabanos. Isso ocorreu em 1949, por decisão da família Jafet, proprietária do terreno, que necessitava do local para expandir sua indústria e sugeriu a entrega do mesmo. Foi um golpe duro para o clube, que realizava seus jogos lá e era o clube do bairro. A perda não foi assimilada prontamente. O futebol profissional sofreu bastante com o acontecimento e o futebol amador, celeiro de craques, ficou desarticulado, sem lugar para treinar e jogar. Era mais um golpe do destino em uma vida tortuosa, já que os golpes eram frequentes.

Somente o heroísmo dos que se dedicavam ao clube poderia suplantar. Foi necessário sair das cinzas e jogar em outros campos emprestados por clubes amigos para continuar tocando o clube, mas o declínio era evidente. O clube que apresentava o maior esquadrão de sua história em 1948/49/50, com jogadores como Osvaldo, Gaincoli, Homero, Belmiro, Reinaldo, Dema, Liminha, Rubens, Silas, Bibe e Walter, não podia mantê-los por muito tempo. O assédio era grande e surgiu o grande leilão.

Em 1950, o futebol brasileiro testemunhou um fato sem precedentes: a venda de uma equipe inteira. Sem um campo para jogar e sem dinheiro para manutenção, a diretoria do clube, liderada por Milanesi, teve que se desfazer dos seus craques, que foram assediados pelos maiores clubes do Brasil e de São Paulo. Apesar da tristeza e da emoção de ter que abrir mão de um time tão querido pelos paulistas, o valor obtido com a venda foi significativo. O presidente decidiu utilizar esse dinheiro para melhorias no Parque do Sacomã, incluindo novas quadras e pistas, em vez de investir em um imóvel próprio. Na época, havia uma polêmica sobre a compra do Parque, uma vez que diversas tratativas foram realizadas com o Sr. Américo Sammarone para a aquisição do terreno. No entanto, a intransigência prevaleceu, e a diretoria do clube precisou buscar o auxílio dos homens públicos para encontrar uma solução.

Em 1952/53, o clube contava com Francisco Peres como diretor, que também era vereador na Câmara Municipal de São Paulo. Ele começou a trabalhar para que o Parque do Sacomã fosse desapropriado em favor do clube e se tornasse de utilidade pública. O clube havia investido uma grande quantia de dinheiro naquele local e apresentou vários argumentos para apoiar sua causa. Vários vereadores, incluindo William Salem (presidente da câmara na época) e André Nunes Jr., foram convocados para lutar em favor do clube. O interventor da época, Fernando Costa, também se ofereceu para ajudar.

Após muitas idas e vindas, o projeto de desapropriação foi apresentado e aprovado. O prefeito na época, Jânio Quadros, deveria sancioná-lo, mas para a infelicidade de todos, ele alegou que não tiraria dinheiro das escolas para dar a um clube de futebol. Foi um golpe duro e frustrante para todos os diretores, que choraram copiosamente. O sonho de alcançar essa etapa foi perdido, e a sina do clube mais uma vez se fez presente. A saga iniciada em 1906 ainda não havia chegado ao fim.

Fonte:
MURAHOVSCHI, Jacob. CAY: 110 anos de história, Casa do Novo Autor, 2017
SALIBA, Natal Assad. A saga do CAY, Marins & Marins, 2006

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