1953 – 1960 Do golpe brutal à Rua do Manifesto
Numa manhã de 10 de novembro de 1953, um oficial de justiça apareceu de surpresa com um mandado de despejo e imediatamente começou a cumprir a ordem. Sem tempo para qualquer tipo de preparação, os tratores foram acionados e começaram a derrubar paredes, destruindo tudo o que havia sido construído com tanto esforço. Os diretores e associados que estavam presentes ficaram chocados ao verem troféus, fotografias e outros itens sagrados do clube sendo destruídos. Toda a história do clube foi deixada em ruínas no chão frio do Parque do Sacomã.
Não houve piedade, apenas o império da lei que não retrocedeu nem um pouco para preservar o clube desse golpe brutal. Restou apenas aos poucos ypiranguistas verdadeiros presentes no local recolher os cacos e levá-los para algum lugar, e foi na chácara da família Fongaro que encontraram abrigo. O que restou ficou inertes, jogado no chão frio. Infelizmente, a história do clube parecia se repetir, causando uma agonia geral.
Os poucos dirigentes presentes ficaram sem saber o que fazer, completamente pegos de surpresa. Foi então que Alfredo Sergio Lazzareschi, um ex-presidente do C.D.R. São José, solicitou ajuda com a cessão de uma sala. Prontamente, um co irmão os acolheu, mostrando a verdadeira irmandade ypiranguista. Mais uma vez, a chama do clube ressurgiu, permanecendo por algum tempo até que surgiu a oportunidade de alugar algumas salas acima do Cine Anchieta, na Comandante Taylor com a Silva Bueno.
Em 1954, com a presidência de Mario Telles sucedendo Jerônimo Mauri, o clube começa a se reerguer após a tragédia. O futebol profissional e amador estavam com dificuldades, mas graças ao esforço de verdadeiros heróis, como Aniz Marrar e Ivone Clemente, alguns departamentos como a bocha e os bailes de carnaval davam algum alento. Os poucos sócios que restaram se mantiveram fiéis, dando continuidade à luta titânica do clube. Hoje, o clube honra os chamados “118”, que mantiveram a chama do amor pelo clube acesa, mantendo as esperanças vivas. Louvemos também a nossa sala de carteado, que supria algumas emergências.
Em 1956, pela primeira vez o clube pede licença para não disputar o campeonato, pois havia caído e tinha o direito de retornar. Com tempo para respirar um pouco, o clube prosseguia sua vida com poucas arrecadações. Haveria uma luz no fim do túnel. Nesse mesmo ano, o CAY sofre um grande golpe com a morte do grande Carlos Paeta, que desde 1912 mantinha-se fiel ao clube. Para homenageá-lo, o clube manda confeccionar o seu busto, que é colocado em uma das salas do clube e na entrada do estádio do Pacaembu, uma homenagem de São Paulo a esse extraordinário desportista. E agora, o que fazer no jubileu do clube?
O clube comemorou seu Jubileu de Ouro em 1956, quando o Secretário Francisco Peres propôs a formação de uma comissão para adquirir a primeira sede própria do clube. Em reuniões realizadas no Colégio Visconde de Itaúna, estabeleceu-se uma ajuda financeira com determinado valor para arrecadar fundos para essa empreitada. Na época, alguns jogadores haviam sido vendidos e títulos dos clubes devedores poderiam ser aplicados. Com essa expectativa, a família Jafet mais uma vez entrou em cena e vendeu um casarão na rua Xavier Curado com Cipriano Barata por 350 contos de réis. Finalmente, o sonho da casa própria se tornou realidade e a saga começou a ter um fim.
Após o período de licença concedido pela Federação em 1957, o CAY fez um acordo com o Corinthians de Santo André para jogar seus jogos naquele município. Apesar disso, as dificuldades na manutenção do futebol profissional continuaram, e o clube acabou sendo rebaixado e encerrando melancolicamente seu ciclo como fundador da FPF. Seu futebol profissional passaria para a história com seu desaparecimento, já que se tornou impraticável mantê-lo. No entanto, ficou a esperança de que um dia pudesse ressurgir.
No ano de 1958, o Ypiranga comemorava o sucesso de sua nova sede própria, incluindo um ginásio ao lado e a introdução de novos esportes. Sem mais a necessidade de investir em futebol, o clube passou a se concentrar em atividades sociais, como a popular domingueira dançante, organizada por Marcos Pelegrini, que atraía uma multidão de jovens para o ginásio.
Com o renascimento do clube, veio o sonho de novas conquistas e um velho membro do Ypiranga sugeriu a compra de um novo local, na Rua do Manifesto, que estava à venda. O terreno pertencia à família Jafet, que havia construído um ginásio para o Seri após uma pequena disputa com o Ypiranga. Djalma Fernandes, responsável pela venda do terreno, negociou com Mario Telles e Gladston Jafet para que fosse comprado por meio de uma parceria com a venda de títulos. Com a transação concluída, o clube se desenvolveu ainda mais a partir de 1960, com a construção de piscinas, um salão de festas, um campo de futebol e quadras de basquete. Além disso, um centro de ajuda para pessoas carentes foi construído nos fundos do clube.
Fonte:
MURAHOVSCHI, Jacob. CAY: 110 anos de história, Casa do Novo Autor, 2017
SALIBA, Natal Assad. A saga do CAY, Marins & Marins, 2006